Debruçada à beira do Tejo, Alcântara é hoje uma freguesia com uma área que se estende por 4,39 km2 e com uma população de 13.911 pessoas. A freguesia foi criada a 8 de Abril de 1770, com o nome de S. Pedro em Alcântara por se transferir para esta zona aquela que era até então a freguesia de S. Pedro em Alfama.
Frequentemente associada ao vocábulo árabe “Al‐quantãrã”, “a ponte”, a toponímia desde logo remete para a existência de uma ponte sobre a ribeira de Alcântara, hoje desaparecida.
Local com colinas e vales, Alcântara tinha recursos naturais existentes nas margens da ribeira e terras férteis que permitiam uma agricultura rica e variada, com muitas hortas nos vales aluviais, vinhos e cereais, além de pedreiras de calcário, com fornos de cal. Foram estas condições que fizeram que durante a ocupação muçulmana estes terrenos começassem a ser ocupados ainda que de uma forma dispersa. Foi, contudo, a partir do século XVIII que Alcântara passou a ter uma ocupação urbana, coincidindo com a data de criação da freguesia.
Foi no princípio do século XVII que começou a ser construído o Paço Real de Alcântara, residência régia de campo, a qual era complementada pela Quinta Real. O paço foi vendido em meados do século XIX, e dele já não restam vestígios significativos. Muito perto deste palácio ficava a Tapada Real, mais tarde Tapada Real de Alcântara e hoje conhecida por Tapada da Ajuda, a qual era muito procurada para as actividades cinegéticas.
O terramoto de 1755 levou a mudanças na cidade. As zonas de Alcântara, Belém e Ajuda, por praticamente não terem sofrido estragos com o terramoto, tornaram-se no centro da cidade. O rei e o governo vieram instalar-se nesta zona, atraindo a nobreza, o funcionalismo, o pessoal do paço, o comércio que vivia de toda essa gente, os artistas e os artífices. A Junqueira estava na moda na primeira metade do século XVIII.
São dessa época alguns palácios que a caracterizaram e continuam a caracterizar.
Com a chegada do século XIX, a dinâmica espacial de Alcântara foi marcada pelo evoluir da implantação industrial ao redor de Lisboa, começando junto à Ribeira de Alcântara. Este bairro acabou por ser absorvido e transformado pelo crescimento da área urbana e industrial e pela necessidade de ligações rodoviárias rápidas com os arredores.
A partir das últimas décadas de 1800 instalaram-se em Alcântara importantes fábricas: fábricas de curtumes, indústria química, fábricas de moagens, indústria de lanifícios e têxteis, entre as quais a célebre Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense, um dos mais importantes complexos fabris de Lisboa ligado ao sector têxtil.
Além disso, a extracção de pedra para a construção e para o fabrico de cal era uma indústria que já existia há muito tempo em Alcântara. Visto tratar-se de uma região de calcários encontram-se várias referências desta actividade ligadas à construção dos seus edifícios.
A nova dinâmica industrial de Alcântara levou à necessidade da criação de melhores infraestruturas que servissem esta “vila fabril”. Assim, foi construído o caminho-de-ferro que ligava Alcântara e Sintra, a estação de Alcântara-Terra e o Mercado de Alcântara, então na Praça General Domingos de Oliveira, inaugurado a 31 de Dezembro de 1905. Neste sentido são ainda de destacar a instalação das escolas industriais Marquês de Pombal e Fonseca Benevides, assim como a escola comercial Ferreira Borges, para dar resposta às crescentes exigências que o mundo industrial impunha.
O elevado número de fábricas determinou o carácter popular e operário do bairro de Alcântara, que se traduziu desde cedo na grande adesão à causa republicana e num grande movimento associativo, sendo elevado o número de colectividades na freguesia.
O Vale de Alcântara sofreu profundas alterações nas últimas décadas, destacando-se as obras do caneiro que taparam o Rio de Alcântara, a abertura da Avenida de Ceuta, bem como a construção da ponte 25 de Abril e respectivos acessos.
Os edifícios fabris de finais do século XIX e que tanto marcaram a vida dos alcantarenses nas primeiras décadas do século XX, foram, entretanto, abandonados. O processo de industrialização vivido por Alcântara na 2ª metade do século XIX, deu lugar, cem anos depois, ao processo inverso e uma profunda transformação social, sendo grande parte deles hoje edifícios de habitação e empresariais.