Antes do desenvolvimento da indústria no século XIX, destacaram-se em Alcântara, ainda no século XV, os fornos de cal – que aproveitavam a pedra da serra de Monsanto e o tojo do Ribatejo que vinha através do rio Tejo –, algumas fábricas de curtumes instaladas ao longo da ribeira para aproveitamento da água e a Real Fábrica de Pólvora.
A Real Fábrica de Pólvora foi construída em 1725, num terreno pertencente à Quinta do Cabrinha, propriedade de D. Francisco de Melo da Câmara. Em 1757, por questões de segurança, a Fábrica foi transferida para Barcarena.
Foi, no entanto, no século XIX que Alcântara conheceu um salto a nível da industrialização, com destaque para a instalação da Fábrica de Lanifícios Daupias em 1839 e, em 1846, a Companhia de Fiação de Tecidos Lisbonense.
Em meados do século XIX fixaram-se em Alcântara algumas unidades fabris ligadas à indústria química (sabão, velas de estearina, azeite de purgueira, óleos, etc.), convertendo Alcântara num pólo industrial bastante importante.
De entre as várias fábricas que se instalaram em AlcÂntara e que estiveram em actividade nos séculos XIX e XX, destaque para Fábrica Napolitana, Goarmon e Cª, Sidul, Quimigal, Ladrilhos Ideal, Fábrica Sant’Anna, Fábrica de Louça de Alcântara, Fábrica da União, Fábrica de Chocolates Regina, Fábrica dos Alfinetes, Serralharia Dargent, Fábrica de Lanifícios Daupias, Companhia de Fiação de Tecidos Lisbonense, Companhia Industrial de Portugal e Colónias, tipografia Anuário Comercial de Portugal e Gráfica Mirandela.
A área industrial a Sul do Largo do Calvário e da antiga Rua de São Joaquim adensou-se de construções, como por exemplo as instalações da Carris.
Sobre o caneiro de Alcântara, já coberto, construiu-se, além do caminho-de-ferro, a estação de Alcântara-Terra e o Mercado de Alcântara, inaugurado a 31 de Dezembro de 1905, na Praça General Domingos de Oliveira.
Desde 1876 que já se encontrava em grande parte urbanizada a zona delimitada pela Calçada da Tapada e Calçada de Santo Amaro a Norte, e a poente e a Sul pela Rua de Alcântara, Largo do Calvário e Rua 1º de Maio.
Os transportes públicos urbanos de passageiros em Lisboa surgem após 1860, altura em que já existiam muitas fábricas. Mesmo assim, até 1888 o custo desses transportes era muito elevado relativamente aos salários das camadas populacionais mais desfavorecidas, ou seja, a população fabril. A maioria dos operários, especialmente as mulheres e os aprendizes que morassem longe dos seus locais de trabalho não eram utilizadores dos transportes colectivos, deslocavam-se a pé ou tentavam arranjar casas nas imediações das fábricas. Foi como resposta a esta situação e a pensar especialmente na população feminina, que tinham tarefas domésticas após o dia de trabalho na fábrica, que na segunda metade do século XIX surgiram os bairros operários e os pátios. Só entre as ribeiras de Algés e de Alcântara existiam 108 pátios.
A melhoria dos transportes públicos contribuiu para o desenvolvimento do bairro de Alcântara.
No dia 2 de Abril de 1887 foi inaugurada a linha de caminho-de-ferro entre Alcântara-Terra e Sintra. Prolongada até à estação de Alcântara-Mar em 1891, a linha férrea teria sido construída depois das obras de aterro na praia de Alcântara, efectuadas desde 1876, conquistando mais de 500 metros ao Rio Tejo, possibilitando a instalação de mais fábricas, instalações portuárias e arruamentos.
Entre 1884 e 1886 começaram a ser urbanizados os bairros de Santo Amaro e do Calvário, este aberto em parte da Antiga Quinta da Ninfa. Aos arruamentos foram dados os nomes associados às comemorações do tricentenário de Camões.
Tão elevado número de fábricas determinou o carácter popular e operário do bairro de Alcântara, que se traduziu desde cedo num grande movimento associativo, registando-se em Alcântara uma invulgar concentração das mais variadas formas de associação operária, colectividades, cooperativas, cantinas, creches, escolas, asilos, salas de teatro, etc.
Algumas destas associações chegaram aos nossos dias, destacando-se assim o papel da “Promotora”, fundada para garantir aos adultos a instrução.